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domingo, março 04, 2012

Seus ouvidos polidos





















Não querem meus adjetivos chulos

Suportam apenas as belezas bucólicas

Já eu tenho náuseas,

Cólicas insanas,

Palavras vis e profanas

Que revelam a escanção humana,

A deterioração mundana

Que arrasam minha essência,

Desconheço o amor

Por jamais tê-lo ganho

Conheço a falta dele,

A realidade escalpelante

Que rasga e fere

O que ainda me resta,

E só tenho minha retórica

Não quero sua opinião.

Poema para Ana Cristina César





















Meus dentes rangem

Minha gordura ferve

A garganta supita

Não tenho mais dor.

Meus pulsos tangem

Vertendo o suco

Que ainda posso ter

Estou fora de mim.

Meu corpo cai

duma janela

sétimo andar

sem nada explicar.

Quero ser um poema

E flutuar em seu colo

Viver para quê?

Padecer como ela

Fio da navalha

Numa língua de trapo

Tantas lembranças

Tantas vertigens.

Acalanto em mim

Um segredo infinito

Rabiscado nos papéis de cheiro

Que um dia minha mão tocou.

E perfumadas ainda,

Elas se vão

Vãs, inertes

Pousadas em meu desespero.